Colonização e devastação de corpos e do ambiente

O que importa sublinhar desde logo é que sustento que as formas de exploração da mulher que foram tratadas no capítulo anterior compõem o substrato material, a base concreta da colonização. Não obstante a pluralidade de formas de vida das mulheres, alguns elementos foram muito generalizados, no sentido de a terra e a mulher terem sido vistas de forma análoga, controladas, adestradas e exploradas no limite, no benefício do projeto colonial. Na esteira dos autores citados, pode-se dizer que existia uma oposição gendrada em que a mulher foi associada ao elemento colonizado, à natureza e à América, ao passo que o masculino foi associado ao colonizador, à Europa, a o Estado monárquico. Isso implica em dizer que a colonização foi uma colonização da América e do seu território, e também dos corpos e das vidas das mulheres (a mulher foi mais objeto do que sujeito da colonização),…
Primeiro, o texto define conceitos importantes para se compreender a política brasileira:
O patrimonialismo é uma forma de dominação baseada no poder pessoal da autoridade sacralizada, é por isso mesmo, personalista.
No centro dessa forma de dominação está o patriarcalismo, que significa poder político do patriarca.
No patrimonialismo a comunidade política é uma expansão da comunidade doméstica. Na nossa história, a figura do patriarca se confunde com a do senhor de terras.
Por este motivo, os conceitos de patrimonialismo, personalismo e patriarcalismo são ligados à nossa herança rural.
Essas características se apresentam de diversas formas: na presença de famílias como protagonistas da política, na presença central de homens no nosso imaginário político, no uso da coisa pública (recursos públicos, equipamentos públicos, cargos, leis, etc) com interesses privados.
Vocês conhecem diversos exemplos disso: não é uma discussão etérea e abstrata. As família Sarney no Maranhão; Collor em Alagoas; Magalhães na Bahia, Campos em Pernambuco, Neves em Minas Gerais, Bolsonaro no Rio de Janeiro, são apenas alguns exemplos recentes disso tudo.
O uso privado de dinheiro público acaba sendo naturalizado nesse processo e leva a casos absurdos, como a construção dum aeroporto com verba pública e terreno da família de Aécio Neves.
Segundo, o raciocínio de Mariana Basso coloca em primeiro plano a mulher e sua condição no processo de colonização e da compreensão do patrimonialismo, do patriarcalismo e do personalismo. Essas características sempre foram estudadas por homens: Sérgio Buarque de Hollanda, Raymundo Faoro, Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro, entre outros.
Já Mariana observa que
Apesar de diferentes mulheres entrarem no jogo da colonização e da construção de nossas identidades políticas, a terra e a mulher foram vistas de forma análoga, controladas, adestradas e exploradas no limite, no benefício do projeto colonial.
O “invadir, conquistar, subjugar” é o fundamento da exploração indígena, do latifúndio, da escravidão, e, também, da forma como foram tratadas as mulheres, do papel que lhes foi dado, de objeto da colonização.
Não é por acaso que temos, no Brasil taxas tão altas de feminicídio e de violência às populações LGBTQ: estas últimas representam uma negação da família ideal que a colonização impôs.