Desigualdades regionais e naturalização da pobreza

Nas últimas semanas analisamos alguns quadros e gráficos que mostram as diferenças no nível de desenvolvimento entre as regiões brasileiras. O estudo desses gráficos serviu para começarmos a analisar as razões das disparidades regionais. Eu lembrei nas nossas conversas que os gráficos todos tem duas coisas em comum: mostram que o Sudeste é mais industrializado, mais rico, tem mais empresas e estradas rodoviárias, entre outras coisas e, além disso, eles (os gráficos) não explicam nada.
Com isso, se quer dizer que qualquer gráfico ou mapa é um elemento em uma narrativa: é preciso contar a história (as histórias) por trás dos números. Do contrário, cai-se no fetiche dos números a que Jessé de Souza se refere. Ou seja, é preciso entender e ir atrás das causas do que os gráficos e números mostram para poder interpretá-los melhor.
É aí que nos ajudam as ciências sociais – antropologia, sociologia, história, geografia.
Para compreender as razões da desigualdade entre as regiẽos brasileiras nós usamos o livro “A miseraǘel revolução das classes infames”, de Décio de Freitas. O livro trata da Cabanada, a revolução ocorrida no Pará entre 1835 e 1840.
Como outras insurreições populares que ocorreram no mesmo período, a Cabanada foi motivada pelo caminho que a formação da República brasileira estava tomando. Os cabanos (índios, negros, mestiços, todos pobres) estava vendo que o poder ia continuar concentrado nos estados do Sudeste e que o mesmo arranjo de forças iria permanecer: ou seja, a escravidão continuaria como principal forma de organização social e de produção de riquezas.
Os cabanos não queriam um futuro em que o Sudeste concentrava poder político e riqueza. O nosso presente atual.
A compreensão dessas razões históricas ajudam a compreender a realidade sobre a qual vocês vão produzir jornalismo e sobretudo a não naturalizar as desigualdades.